Contingente: 800 homens da Brigada Paraquedista do Exército, blindados e helicópteros da Força Aérea, além dos tanques da Marinha, foram enviados para o Rio
FOTO: BRUNO DOMINGOS /REUTERS
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Ônibus é incendiado ontem durante mais uma ação criminosa dos traficantes que aterrorizam o Rio desde o último domingo
Moradores correm durante troca de tiros entre homens do Exército e os bandidos no Complexo do Alemão na tarde de ontem
27/11/2010
A maior parte dos militares que cercaram o Complexo do Alemão atuou na missão de paz da ONU, no HaitiRio de Janeiro - O Exército entrou ontem na guerra contra os traficantes, no Rio de Janeiro. Oitocentos homens da Brigada Paraquedista iniciaram o cerco ao Complexo do Alemão, conjunto de favelas da zona norte carioca para onde centenas de bandidos da Vila Cruzeiro, área vizinha agora dominada pela polícia, fugiram na última quinta-feira.
A bordo de 30 veículos, sendo cinco deles blindados, os militares foram recebidos a tiros pelos criminosos. Os soldados revidaram. O tiroteio durou pelo menos duas horas e assustou moradores, que corriam em busca de abrigo.
O soldado do Exército Walbert Rocha da Silva,19, foi baleado na coxa direita. Uma menina de dois anos levou um tiro de raspão no braço em casa, na favela Nova Brasília, no complexo do Alemão. Uma aposentada de 62 anos também foi baleada na panturrilha na favela Vila Cruzeiro e um vigilante também ficou gravemente ferido num tiroteio na rua Paranho, uma das ruas de acesso ao complexo do Alemão.
O fotógrafo Paulo Whitaker, da agência Reuters, foi baleado durante a cobertura do conflito no conjunto de favelas. Informações preliminares indicam que ele foi atingido por um tiro de raspão e foi levado para o Hospital Pasteur, no Méier, zona norte do Rio.
Uma intensa troca de tiros ocorre na tarde desta sexta-feira entre criminosos e militares do Exército no conjunto de favelas Alemão, na Penha, zona norte do Rio.
A operação ocorre para tentar conter os ataques criminosos e incêndios em veículos registrados desde domingo (21). As ações seriam uma retaliação do tráfico contra a instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), segundo as autoridades de segurança pública
A maior parte dos militares que cercaram o Alemão atuou na missão de paz da ONU, no Haiti. No complexo de favelas carioca, eles enfrentarão cerca de 600 traficantes, de acordo com estimativas da Polícia Militar. Antes dos conflitos, o comandante militar do Leste, general Adriano Pereira Júnior, responsável pela operação, já admitia trocar tiros com traficantes. "Nós estamos indo para uma área de conflito. Se formos atacados, não há como não responder", afirmou.
Pela manhã, os criminosos já haviam sinalizado que ofereceriam resistência. Atiraram contra um helicóptero da Polícia Civil que fazia o reconhecimento da região.
A sexta-feira registrou uma diminuição no número de ataques a veículos por parte dos criminosos: nove foram incendiados ontem; na quinta-feira, 37. Desde domingo, o número de ataques já chega a 100.
No sexto dia de confrontos com traficantes, nove pessoas morreram. A guerra que toma conta da cidade já matou 45 pessoas. Foram feitas pela Polícia Militar 192 prisões e detenções ao todo.
Devastação
Na Vila Cruzeiro, homens das polícias Civil e Militar deram continuidade à ocupação da favela. Eles vasculharam a região em busca de bandidos escondidos, drogas e armas.
Encontraram um cenário de devastação, com 20 carros queimados e pelo menos 60 motos abandonadas. Foi encontrada uma espécie de enfermaria do tráfico, com grande quantidade de material hospitalar.
Foram apreendidos cinco fuzis, duas metralhadoras, diversas bombas e granadas de fabricação caseira, mais de mil munições de diversos calibres, um colete à prova de balas e cerca de duas toneladas de drogas.
Apoio da Marinha
A operação contou novamente hoje com o apoio da Marinha. Foram utilizados 15 blindados da corporação, cinco a mais do que no dia anterior.
Apesar de a Polícia controlar a situação na Vila Cruzeiro, houve tiroteios em favelas próximas, como no morro da Chatuba. Um policial militar foi ferido por estilhaços de bala.
DECLARA COMANDANTE"Militares irão revidar nos confrontos"
Rio de Janeiro - O general Adriano Pereira Júnior, comandante Militar do Leste, afirmou na tarde desta sexta-feira que cerca de 60% dos 800 homens enviados ao Rio de Janeiro têm experiência no tipo de operação que acompanha na cidade. Questionado sobre a possibilidade de um confronto direto entre criminosos, ele respondeu: "Se tiver confronto, infelizmente vamos ter que partir pra isso".
Na noite de quinta-feira (25), o ministro da Defesa, Nelson Jobim, assinou autorização que determina às Forças Armadas o reforço do apoio ao governo do Rio nas operações de combate à onda de ataques que ocorre no Estado desde o domingo (21).
A Operação de Garantia da Lei e da Ordem foi solicitada pelo governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) e teve que ser autorizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois o número de homens solicitado foi acima do que o ministério poderia liberar. Também foram enviados ao Rio dez blindados e três helicópteros da Força Aérea. "Nós, do Rio de Janeiro, estamos muito felizes porque o Brasil se uniu pela nossa causa", afirmou, mais cedo, o governador do Rio sobre a autorização do reforço policial.
De acordo com o general, os homens do Exército já estavam em diversos pontos da região da Penha. Eles irão fazer a segurança dos acessos do perímetro, cercar e isolar o Complexo do Alemão.
O secretário de Segurança do Estado, José Mariano Beltrame, - que também participou de entrevista - disse que a operação foi planejada, mas foi antecipada. Ele explicou que o papel das forças federais na Vila Cruzeiro e Complexo do Alemão é logístico e estratégico. "Era uma operação para ser mais para frente. Vimos o que tinha e o que faltava e solicitamos apoio da Marinha. Depois de fazer a entrada , há uma necessidade estratégica para nós, que toda aquela região tenha os acessos controlados", afirmou.
Protestos
O ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, disse ontem que as ações dos criminosos no Rio de Janeiro são um protesto contra o sucesso das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que estão devolvendo o espaço à população antes dominado pelo crime organizado.
Na opinião do ministro da Justiça, não houve falha do serviço de inteligência que já sabia do descontentamento dos bandidos com as UPPs. "A tática usada por esse tipo de bandido, tática de guerrilha, de jogar um coquetel molotov num ônibus, num carro, é muito difícil de prever quando vai acontecer. O mais importante é a reação conjunta do Rio de Janeiro a fim de desestruturar essa cadeia de comando sobre esse tipo de ação".
Ele disse que informações colhidas pelos projetos de controle das fronteiras do Ministério da Justiça estão sendo usados para entender esse conflito do Rio de Janeiro. "Muitas informações de inteligência foram trocadas nos últimos dias que permitem maior compreensão, por parte das forças policiais, desse fenômeno e para uma atuação mais especifica e pontual do que está acontecendo.
Segundo ele, existem presos comandando as ações de dentro dos presídios. "Existem pessoas de dentro do presídio e pessoas de fora que executam isso, inclusive menores, nas ruas do Rio de Janeiro. A orientação é prender todas as pessoas.
Arsenal
30 viaturas militares, entre jipe s e motos.
Cinco blindados Urutus equipados com metralhadoras.
Fuzis Para-Fal 762", que tem alcance de até 600 metros.
Quinze tanques blindados da Marinha.
Três helicópteros cedidos pelo Força Aérea.
Equipamentos de comunicação entre aeronaves e tropas em solo e óculos para visão noturna.
SUSPEITOSDecretada prisão de advogados de Marcinho VP
Rio de Janeiro - O juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira, da 1ªVara Criminal de Bangu (zona oeste do Rio) decretou ontem a prisão preventiva de Beatriz da Silva Costa, Flávia Pinheiro Fróes e Luiz Fernando Costa, advogados do traficante Márcio dos Santos Nepomuceno - conhecido como Marcinho VP - suspeitos de transmitirem ordens dele e de seu comparsa Elias Pereira da Silva - o Elias Maluco - para os crimes que ocorrem no Rio de Janeiro desde domingo (21).
Segundo a decisão de Teixeira, os advogados "receberam de seus clientes ordens transmitidas por bilhetes, como também no decorrer de suas entrevistas, verbalmente".
Fonte: Diário do Nordeste