Banhos frios, sufocamento, dias de inverno sem roupa, do lado de fora
da casa, socos, tapas. São apenas partes de relatos que vizinhos e
familiares de um menino de 12 anos da cidade de Alvorada, no Rio Grande
do Sul, fizeram à 3ª Delegacia de Polícia do município sobre os maus
tratos atribuídos à mãe dele, de 38 anos, detida na manhã desta
segunda-feira (3) em cumprimento ao mandado de prisão preventiva
decretado pela Justiça.
Mulher é suspeita de torturar o filho com socos e de tentar
estrangular o menino, de 12 anos, em Alvorada, RS
(Foto: Divulgação/Polícia Civil RS)
O menino possui encefalopatia, uma patologia relacionada ao cérebro.
Tem dificuldade motora. Vive em uma cadeira de rodas, movimenta pouco as
mãos, e também fala pouco, segundo a delegada do caso, Graciela
Foresti.
No dia 22 de setembro, ela foi procurada pelo conselho tutelar depois
de uma denúncia do colégio onde o garoto estuda, uma escola pública que
não teve o nome divulgado para preservar os envolvidos.
O menino, que usa fralda, negava-se a voltar para casa, em desespero.
Aos professores, segundo a delegada, afirmava que não poderia voltar
para casa sujo porque a mãe o mataria. Segundo as denúncias de vizinhos e
familiares, a mãe tentava sufocar o garoto toda vez que ele precisava
trocar a fralda. Quando chorava, tentava estrangulá-lo. Por diversas
vezes, teria colocado uma mangueira de água, para que ele parasse com o
choro. E teria obrigado o menino a comer as próprias fezes. Levado pelos
conselheiros, o menino contou a mesma versão à delegada.
“Os familiares disseram que, quando eles estavam na sala da casa,
ouviam o menino se afogando e sufocando. E a mãe dizia: olha como eu
faço para ti parar de chorar”, diz a delegada. “Ele até não consegue
falar porque está com a boca toda cortada. Mas ele me contou, falou
comigo. Disse: ela tentou me matar várias vezes.”
'Nem bicho'
A descrição das atrocidades relatadas inclui agressões com socos, com
tapas, estrangulamento, tudo para que o filho não chorasse. A mãe é
suspeita de deixar o filho imóvel no chão gelado, e jogar água fria
sobre ele. O mesmo fazia com o filho sem roupas, em dias de inverno, do
lado de fora de casa. Deixava-o sem comer, e ele era proibido de ver
televisão.
“E não tinha nenhum brinquedo. Acho que nem bicho, com certeza, nem um
animal faria isso para um filho”, diz a delegada, com a voz embargada.
Sobre o tempo em que o menino teria sido submetido a torturas,
possivelmente cinco anos, ela afirma: "Não sei se as pessoas ouviam o
choro dele. Porque quando ele chorava, ele diz que a mãe colocava a
mangueira logo, para ele parar".
A polícia ouviu a avó, a tia e a irmã mais velha do menino, que cuidava
dele até se casar e mudar de casa. Há cinco anos, o menino vive apenas
com a mãe. Antes, a família morava em São Vicente do Sul, onde também
foram feitas denúncias de vizinhos ao conselho tutelar e onde o menino
chegou a ser recolhido a um abrigo. Conforme as investigações, a mãe foi
atrás da criança e a ameaçou, caso contasse o que acontecia.
No mesmo dia em que o colégio fez a denúncia, o menino foi recolhido a
um abrigo municipal. A mãe será encaminhada à Penitenciária Feminina
Madre Pelletier. Ela deve ser indiciada por tortura. No inquérito em
andamento, a delegada afirma ainda que o indiciamento deve incluir
majoração da pena, de um terço a um sexto, por prática de crime contra
deficiente físico. “É inacreditável”, conclui.